
banzo + mulher do fim do mundo
Letra: Alexandra Lucas Coelho, Alice Coutinho
Música: Romulo Fróes
Banzo. BÃ ZU.
Do português "banzar": pasmar pela morte. Do quimbundo "mbanza": aldeia. Falta
da aldeia. A nostalgia dos negros arrancados de África que levou muitos à morte
no Brasil colonial.
Banzo.
Escravos com banzo caíam na apatia. Recusavam alimentos. Tomavam veneno.
Enforcavam-se. Muitos comiam terra, uma forma arcaica de atenuar a fome que
estava ligada à infeções, definhamento, vontade de morrer.
Para evitar perdas, o proprietário português forçava-os a usar a máscara-de-folha-
de-Flandres: uma mistura de ferro, aço e estanho que se aplicava diretamente
sobre a boca das pessoas escravizadas. Funcionava como burca facial, impedindo
também que bebessem cachaça ou furtassem pepitas e diamantes, engolindo-os.
Em nenhum outro lugar do Novo Mundo, havia tantos escravizados como no Brasil.
A cada manhã, no Rio de Janeiro, formavam-se filas de mulheres e homens
acorrentados, a caminho dos pelourinhos que existiam nas praças principais da
cidade. Nas chácaras, existia o tronco, um instrumento de tortura ao qual se
prendiam as pessoas escravizadas pelo pescoço, mãos e pés. A preguiça era
reprimida a toda a hora, com chicotadas ou violentos tabefes distribuídos de
passagem. Nas chicotadas em série, o couro arrancava a pele à primeira, fazendo
com que a continuação fosse ainda mais dolorosa, até a chaga ter de ser lavada
com vinagre e pimenta para impedir que apodrecesse.
O hábito de comer terra era uma resolução heroica e desesperada, própria das
nações africanas amantes da liberdade. E a máscara-de-folha-de-Flandres, o
indício dos que preferiam morrer a ser cativos.
400 anos depois, um homem branco pergunta: de onde você é?
Elza responde: do Planeta Fome.
Em
Teu choro não é nada além de Carnaval
É lágrima de samba na ponta dos pés
A multidão avança como vendaval
Te joga na avenida que eu não sei qual é
Em Am Em
Pirata e super-homem cantam o calor
Am Em
Um peixe amarelo beija a tua mão
Am Em
As asas de um anjo soltas pelo chão
E7 Am
Na chuva de confétis deixas essa dor
B7 Em
Na avenida, deixas lá
Am
A pele negra e a tua voz
B7 Em
Na avenida, deixas lá
Am
A tua fala, a tua opinião
B7 Em
A tua casa, a tua solidão
Am
Jogou do alto do terceiro andar
B7 Em Am Em
Quebrou a cara e se livrou do resto dessa vida
Am Em. Am Em. Am
Na avenida, dura até ao fim
Em Am Em
Mulher do fim do mundo
Am Em Am B7 Em
Tu és e vais cantar até ao fim